Acabo de ler o livro “Morte de um dissidente”. Fantástico! Um thriller que escancara o sistema político da Rússia desde a queda do comunismo até a reeleição de Putin. O livro é escrito pelo cientista Alex Goldfarb e Marina Litvinenko, viúva do ex-agente da KGB, Alexander Litvinenko (foto à direita), assassinado em novembro do ano passado.
A intenção, além de nos presentear com os bastidores mais sórdidos da política, é denunciar os supostos culpados pelo envenamento de Litvinenko, que seriam ex-agentes da KGB a mando do presidente russo, Vladimir Putin. Nas entrelinhas, porém, fica clara outra intenção, a de desmistificar uma personalidade que se tornou bastante conhecida no Brasil depois de financiar o Corinthians: Boris Berezovsky (foto).
Boris é minuciosamente retratado como o oposto do mafioso russo que conhecemos. Os autores, profundamente envolvidos com o magnata, expõem apenas algumas características (positivas) de Berezovsky. Extremamente astuto, o mega-empresário é retratado como de uma vitalidade impressionante, inteligência acima da média, exímio estrategista (político e econômico), cujas qualidades foram usadas com o propósito de manter no poder um grupo que visava dar continuidade à democracia conquistada com a queda do comunismo, em 1991. Porém, fica claro também que – além da atitude “altruísta” – Berezovsky, influente nas decisões do Kremlin, beneficiou-se (e muito) do sistema de privatização galopante na nova Rússia.
Confesso que, depois deste livro, fiquei intimamente ligada à Rússia e ao povo daquele país. Um povo que ama a pátria e, acima de tudo, acredita nos herdeiros do trono (independente de quem seja ele). Se está governando o país, merece crédito e respeito. Qualquer semelhança com a nossa terrinha não é mera coincidência. Aqui, como lá, somos sujeitos a denúncias violentas de corrupção (para citar apenas um item) e 48% da população ainda diz aprovar o presidente Lula.
É certo que muito do crédito ao governo russo se dá por falta de informação, já que toda a mídia tornou-se (de novo) controlada pelo governo e nada, absolutamente nada que seja contrário ao governo é passado à população. Quem ousa fazer isso, como a jornalista Anna Politkovscaya (foto), é simplesmente assassinado. Aliás, assassinatos políticos não faltam na história da ex-URSS, muito bem narrados no livro.
Escondido por trás desta ditadura disfarçada de democracia, Berezovsky se diz perseguido político. Conseguiu asilo britânico e mora atualmente entre seu retiro na França e em Londres. É financiador de várias ONGs na Rússia que abrigam dissidentes e defensores dos direito humanos, usadas, entretanto, para atacar o governo de Putin pelos vários massacres na guerra contra a Tchetchênia. O conflito teve dois períodos: de 1994 a 1996 e reiniciado por Putin em 1999. A guerra, que dura até hoje, já matou quase 300 mil pessoas desde 1994.
Caçado na Rússia por crimes de lavagem de dinheiro, Boris é, agora, acusado pela justiça brasileira por suas manobras financeiras dentro do Timão. Episódio que, aliás, o livro nem passa perto.
Se eu pudesse, ficaria horas falando sobre o livro, a beleza deste povo, a ganância dos governos, as práticas ainda atuais da antiga KGB e, claro, de Boris Berezovsky. Mas não seria justo. O livro “Morte de um dissidente”, mesmo com uma visão parcial sobre o controvertido Boris Berezovsky (embora em vários momentos o autor tente eximir-se de qualquer parcialidade), vale muito a pena ser lido.
Berezovsky pode ser o “tal”, mas não deixa de ser - assim como Putin é retratado no livro - ganancioso, egocêntrico, vaidoso e manipulador. Basta ler nas entrelinhas.
Enquanto isso, vou devorando “Um diário russo”, da jornalista assassinada, Anna Politkovscaya.
Boa leitura!
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