domingo, julho 22, 2007

Tragédia TAM: número indefinido de mortos

Não há como calcular o número de mortos na tragédia com o Airbus da TAM. Um acidente como este, assim como foi com o Boeing da Gol, em setembro do ano passado, não se calcula pelo número de corpos e sim pelo número de famílias, amigos e parentes atingidos pela tragédia. E este cálculo, infelizmente não tem número definido.

Meu choro, como mãe e cidadã, não significa nada perto do grito de desespero de Cristiane Bueno, a mãe que perdeu seus únicos dois filhos (apenas para citar um dos exemplos). Que vida poderá levar esta mãe depois desta tragédia? Que vida levarão todas as famílias que perderam tantos sonhos junto com aquela explosão? Todas elas morreram naquele dia. Poderão sobreviver à tragédia, mas jamais terão os mesmos sonhos, farão os mesmos planos, terão as mesmas esperanças. Tudo o que morreu com elas (além dos seus entes queridos), não terá retorno.

Suas vidas serão de lembranças. Um dia, porém, terão que renascer de alguma maneira. E elas renascerão, espero eu, com muita coragem e a força dos amigos e parentes. A pessoa é parte daquilo que a cerca. Ou, “daqueles” que a cercam. Quando este ambiente muda, com perdas tão grandes, esta pessoa precisa se redescobrir, começar de novo e isso não está nos cálculos da TAM ou da Infraero, está?

Por todos aqueles que enterraram seus parentes em setembro do ano passado, por todos estes que tentam enterrar as mais novas vítimas desta tragédia aérea, por todos nós brasileiros, possíveis vítimas num futuro vôo, que se faça alguma coisa!

Nada que seja para daqui a 10 anos, senhor presidente. É preciso fazer algo hoje, agora, já que nada foi feito quando deveria. Era preciso ter feito antes, muito antes daquele Boeing da Gol ter se despedaçado, pois o senhor, presidente Lula, foi informado das condições técnicas dos radares assim como das pressões sobre os controladores de vôos.

Era preciso ter feito também depois do acidente com o avião da Gol. E é preciso fazer algo agora! Não somos nós que temos que fazer, são as autoridades que têm nosso dinheiro para isso. São as empresas aéreas que lucram com cada passageiro que coloca sua vida em suas mãos.

Vocês têm que fazer alguma coisa! E isso não é um pedido. É uma ordem, escrita por mim, mas que – certamente – é também de todo o povo brasileiro, pois temos o direito de exigir alguma atitude concreta para que tragédias como estas não se repitam, nem daqui dez meses, nem daqui dez anos.

É nosso direito, é seu dever.

O fantasma de ACM

Não é porque ACM morreu que vou falar bem dele. Não. ACM não foi um político imaculado, mas também não posso negar que sua figura impressionou e que sua liderança fará falta. Mesmo afastado, ACM ainda era o "Senador Antônio Carlos Magalhães". Por isso, um homem como ele não morre. Deixa o corpo velho e cansado para viver em segredo.

ACM rondará o Senado, a Câmara, o Governo e a Bahia. Mas, por mais assombrado que seja não terá êxito. Não neste cenário e, acredito, nem nos próximos dez anos. Não há e nem haverá, tão cedo, alguém com a personalidade tão ambígua, forte, assustadora e necessária quanto à dele. Nem o filho, nem o neto.

ACM sabia passar da ternura à malvadeza nos momentos certos. Era um político. Por paixão e vocação. Fez tudo o que todos os políticos fizeram e fazem. Manipulou, mentiu, enriqueceu. Violou o painel e fugiu. Mas e daí? O que contarão, em se tratando de Antônio Carlos Magalhães, serão sua coragem, sabedoria e sagacidade. Ele teve força, bateu na mesa, gritou, urrou e amedrontou, quando foi preciso. Venceu batalhas e soube passar de um lado para o outro no momento oportuno. Foi um líder. E é esta figura que permanecerá.

A morte de ACM é a concretização de que os pilares da política estão ruindo. Enterrar as atitudes manipuladoras de ACM e sua certeza de que o dinheiro poderia comprar tudo (e todos) poderia ser um alívio, mas não é. Entre raríssimas exceções, ficam apenas os aprendizes que tomaram para si tudo aquilo pelo qual o "Senador Antônio Carlos Magalhães" não será lembrado.

Enterrar o velho coronel, somado a tudo pelo qual o Brasil vem passando, é um aviso: o país está morrendo aos poucos. A saúde pública está em estado terminal. A segurança mete medo. As professoras temem os alunos, e os pais, medo da doutrina política nas escolas. As rodovias, um perigo tão grande quanto o transporte aéreo e o governo mais sujo do que nunca, ao ponto de comemorar uma suposta isenção na tragédia com o Airbus da TAM.

É, povo brasileiro... nós nunca estivemos tão no limbo quanto hoje. Tanto, que ainda vamos sentir saudades do jeito ACM de ser.

quinta-feira, julho 19, 2007

Novas lições, velhas tristezas

A aviação, que fez com que tantas crianças e jovens sonhassem em se tornar pilotos e aeromoças, no Brasil é, hoje, sinônimo de medo, revolta, sofrimento e decepção. O sonho transformou-se em pesadelo em menos de dez meses, período em que dois acidentes mataram quase quatrocentas pessoas. Destruiu famílias inteiras, forçou o brasileiro comum a aprender, por exemplo, que um transponder não pode ser desligado e que uma pista de pousos e decolagens não deve ser liberada sem o grooving.

Estas novas lições jamais serão esquecidas, pelo menos por nós, cidadãos comuns que não pilotamos, não construímos pistas mas sofremos junto àqueles que perderam filhos, netos, pais, amigos, noivas, esposas...sonhos. O que, aparentemente, não aconteceu com aqueles que são responsáveis por evitar que novas tragédias acontecessem.

Uma lição antiga parece não ter sido aprendida pela própria TAM: um avião não deve voar com problemas no reverso! Esta, até nós já sabíamos, desde 1996, quando um Fokker-100 (da mesma TAM) caiu poucos minutos após a decolagem. A causa? Uma "rara combinação entre falha humana e mecânica", entre elas, defeito no reverso (que auxilia na frenagem durante o pouso). Neste caso, o reverso foi acionado durante o vôo causando a queda. Agora, a falha pode ter impossibilitado o pouso e matado mais de duzentas pessoas.

Tudo isso é assunto para investigação que, pra variar, vai levar à agonia famílias que mal conseguirão enterrar seus parentes, vítimas, provavelmente, de uma "combinação rara de vários erros". Afinal, esta também foi a conclusão da tragédia com o avião da Gol. O que impedirá que gora seja também a resposta para as duzentas vítimas do vôo 3054? "Falha mecânica e humana agravada pelo estado da pista e a chuva"... ficaremos sabendo, talvez, daqui a dez meses ou até dois anos.

Por que nós, que aprendemos as lições, vamos ter que repetir o ano? Seremos obrigados a acompanhar as degravações das caixas pretas, reconstituição do acidente, identificação dos corpos, enterros e mais enterros! Não somos obrigados a pagar pelos erros das autoridades!

Por que o governo preferiu investir quase 20 milhões de reais no embelezamento do Aeroporto de Congonhas, ao invés de garantir a segurança na pista? E da TAM que, mesmo sabendo que o Airbus havia apresentado problemas no reverso uma semana antes, nada fez, importando-se apenas em garantir mais vôos para a empresa? Por que a pista de Congonhas foi liberada antes de suas obras terminarem? Quem a liberou? Estas respostas serão meros esquivos, não convencerão e nem devolverão a vida àqueles que se foram por causa da imprudência e da ganância daqueles que deveriam cumprir o seu papel, que é o de garantir a segurança.

Penso em qual (e quando) será a nossa próxima lição... passou da hora de "eles" aprenderem algumas lições.

sexta-feira, julho 06, 2007

Jogo de cartas marcadas

Renan Calheiros está certo. Ele não deve mesmo renunciar.

Moralmente falando (se é que ainda existe um pouco de moral no Congresso), quando um senador ou deputado renuncia ao cargo diz à população que está interessado apenas em manter seus direitos políticos. E, moralmente falando, Renan Calheiros já foi exposto. Todos já sabem quem paga suas contas e a sua imensa (e mágica) capacidade como pecuarista. Resta a Calheiros esperar para ver quem terá coragem de abatê-lo. Assim como Renan, eu também estou pagando para ver o fim dessa história, até porque, o Presidente do Senado não deve ter apenas o "dossiê ignorado" (como auto-intitula o relatório de sua defesa). Devem ser vários os dossiês guardados em seus currais. E muita gente sabe disso. Não é à toa que o processo no Conselho de Ética apresenta irregularidades capazes de anulá-lo. Calheiros é forte como um touro!

Bem menos forte, Joaquim Roriz renunciou sozinho. Por enquanto. Gim Argello, que assumirá o lugar de Roriz, bebeu da mesma fonte e poderá ter que escolher, em breve, entre a cassação ou a renúncia. Creio em uma nova renúncia. Será que o ex-deputado e empresário, Wigberto Tartuce, e Nenê Constantino, dono da Gol, vão querer que este caso vá mais longe do que já foi? Creio que não.

Teriam que explicar muita coisa sobre a venda do tal terreno do governo do DF que, um ano depois, valorizou 170% graças a um projeto do então governador Roriz.. E, se Argello renunciar, quem aparece para substituir o substituto é ninguém menos que Marcos de Almeida Castro, irmão de Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido por livrar políticos de denúncias e é também amigo de José Dirceu. Precisa dizer mais alguma coisa? Precisa.

Se eles estão pouco ligando para a imagem "moral", o futuro das investigações criminais também não lhes importa muito. Elas têm rumo certo: a impunidade. Quem garante é a própria Associação dos Magistrados Brasileiros. Parecia piada, mas não era. Juízes fizeram manifestação contra a impunidade! Pois foi exatamente isso que aconteceu.

Diante de tanta indignação do povo brasileiro perante as denúncias (que parecem nunca ter fim - e não terão mesmo) e a falta de punição, os magistrados correram para se defender e só faltaram chorar. Disseram que o STF (Supremo Tribunal Federal) não condenou autoridade alguma, desde a Constituição de 1988, simplesmente porque não têm condições de julgar tantos processos. Na realidade, nenhuma autoridade foi condenada nos últimos 40 anos!

Das duas uma: ou temos políticos sujos demais ou as instituições julgadoras são incompetentes. Aposto em ambos.

Em uma coisa eu concordo com eles. Esse "foro privilegiado" tem que acabar. Aliás, isso mais parece um "forro" privilegiado, uma tenda onde eles se protegem da luz da verdade e da justiça. Por mim, acabaria também com essa tal Comissão de Ética. Existe uma suspeita de irregularidade envolvendo parlamentar? Ele deveria ser imediatamente afastado do cargo. De tanto usar a declaração de que alguém é "inocente até que se prove o contrário", o país está cheio de bandidos nas ruas, no Congresso e nos Governos.

Graças a tudo isso é que estamos vendo, hoje, o presidente do Senado envolvido em propina e transações pecuárias milagrosas, senadores repartindo um cheque de dois milhões de reais (o que também parece ser propina por uma transação imobiliária) e mais! Graças a isso, Lula pretende trazer de volta Silas Rondeau ao Ministério das Minas e Energia, suspeito de levar R$100 mil da Gautama.

Em pouco tempo teremos de volta também José Dirceu.

segunda-feira, julho 02, 2007

Hogwarts brasileira: o Congresso e seus feitiços

A escritora britânica J.K. Rowling tornou-se bilionária ao criar o bruxo Harry Potter, cuja vida está sentenciada a um confronto com o sanguinário bruxo Valdemort, que tentou matá-lo quando Potter tinha ainda um ano de vida. Enquanto o confronto final não acontece, Potter - assim como centenas de outros bruxos adolescentes - frequentam a escola de Hogwarts. Lá se aprende todas as poções e feitiços que se possa imaginar. A cada episódio Valdemort torna-se mais forte e Potter perde um a um de seus aliados.

Rowling diz que não há nada de mágico em seu processo de criação. Apenas espelhou-se na vida real. Acredito nela. Quem acompanha a série "Escândalos no Congresso Brasileiro" sabe que tudo é possível. Casos recentes mostram-se verdadeiramente mágicos. Com uma pitada de imaginação, qualquer um poderia ter criado uma Hogwarts brasileira.

O mais recente exemplo é o "feitiço" lançado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, que permitiu-lhe escolher, convidar e desconvidar o relator do possível processo contra ele no Conselho de Ética. Algo inusitado para qualquer cidadão comum. Não tenho acesso aos livros de feitiços de Renan, mas posso imaginar que ele tenha usado o chantagius, aquele que revela os segredos de suas vítimas caso não realizem os seus desejos. Lição que, aliás, é uma das primeiras a ser aprendida na política brasileira.

Outra poção mágica usada por grande parte dos nossos políticos é a emprestimus amigus. O ex-presidente do Sebrae, Paulo Okamoto, foi vítima desta poção quando pagou uma dívida de R$29,4 mil que o presidente Lula tinha com o PT. Pagou e nunca cobrou!

O presidente do conselho administrativo da Gol também parece ter tido um acesso de bondade ao sacar R$ 2,2 milhões do Banco de Brasília e teria emprestado R$300 mil ao senador Joaquim Roriz.

Enquanto Renan também não admitir que usou outro feitiço, o engordum bois, em seu rebanho para justificar sua renda extraordinária, ainda fica a versão de que o amigo Cláudio Gontijo paga, às cegas, as despesas extra-conjugais do senador.

Entre os mais mágico de todos os processos já vistos na Hogwarts Brasilis, está o sortis eternum, criado pelo finado João Alves. Cá entre nós, acertar 221 prêmios na loteria é sorte para toda a vida! Pena que ele levou a fórmula para o túmulo!

O que mais me preocupa, porém, é o memorius finitum, o que parece apagar a memória do povo brasileiro. Prova disso é a volta de personagens como Jader Barbalho, Fernando Collor, ACM, Paulo Maluf, João Arruda, entre outros.

O paralelo entre a ficção de Rowling e o nosso Congresso termina quando, aqui, não há Harry Potters, só Valdemorts e suas trapaças. O futuro de Potter e Valdemort ainda é um mistério que será conhecido em julho deste ano. A corja que ocupa o Congresso, porém, está longe de ter um fim, assim como suas mágicas inimagináveis.