quarta-feira, março 21, 2007

Depois de descobrir o "Brasil", Cabral vai à Colômbia

Sérgio Cabral, eleito governador do Rio de Janeiro, encontrou na capital do Estado uma cidade sitiada. Refém da corrupção, do tráfico de drogas, da violência que desceu o morro e fez dos cariocas – um povo bonito, alegre e confiante – o retrato do medo urbano. Parecia ter descoberto algo novo. Um Brasil ainda desconhecido... apenas por ele, não por nós. Muito menos por aqueles que lá vivem.

Quinhentos anos atrás, ou pouco mais do que isso, um outro Cabral pretendia ir à Índia. Encontrou outras terras, terras "novas" como seriam chamadas. De "novo", nada havia. Aliás, nem teria sido ele o primeiro a desembarcar por nossas terras. Mas ficou a ele o título de descobridor do Brasil.

Hoje(22.03), o nosso Cabral desembarcará num país conhecido por ser o maior fornecedor de cocaína no mundo. Encontrará na Colômbia muito mais do que isso. Terá a "surpresa" de ver que a criminalidade tem cura. Nada de novo, de novo. Qualquer sociólogo de plantão terá todas as fórmulas para devolver ao Rio o título de "cidade maravilhosa". Cabral irá à Colômbia para descobrir o óbvio: empenho, seriedade, punição, investimento social, etc.

Álvaro Uribe pode ter todos os defeitos do mundo, como qualquer governante os tem. E nós, com o governante que temos, não podemos abrir nossa boca miúda para fazer qualquer crítica que seja. Vale lembrar os últimos escândalos envolvendo os governos colombiano e brasileiro.

Aliados de Uribe foram acusados de envolvimento com o narcotráfico. Sendo a Colômbia o segundo país a receber os maiores recursos do governo Bush no combate ao tráfico de drogas, as pressões internacionais foram grandes o suficiente para que providências fossem tomadas e talvez tenha sido este o diferencial dos rumos tomados entre os escândalos daqui e os de lá. Na Colômbia, pelo menos oito congressistas foram presos e dezenas ainda estão sendo investigados. Aqui... sem comentários. Uma semelhança, porém, há de ser citada. Tal qual o nosso governante, Uribe disse que não sabia de nada. Defendia seus aliados até o último minuto.

Comentários políticos à parte, vamos ao que interessa: a questão da diminuição da criminalidade, tema central da visita de Sérgio Cabral e Aécio Neves (o que ele vai fazer lá?) à Colômbia.

Em entrevista à Folha de São Paulo, Uribe foi objetivo: combater o narcotráfico requer muitas ações, entre elas uma ação militar efetiva. Além de oferecer aos agricultores alguma recompensa por trocar o cultivo da coca por outras culturas. O medo de uma punição mais severa pode fazer com que os colaboradores dos traficantes troquem mesmo de patrão. Eles certamente não terão o mesmo lucro, mas terão garantias como segurança, ajuda do governo e incentivo fiscal. Poucos sabem, mas a Colômbia, hoje, é o segundo maior exportador de biocombustível da América Latina produzindo etanol com palma africana, mandioca e cana-de-açúcar, mas também está estudando a utilização do milho.

Tomando como exemplo, seria mais ou menos oferecer segurança, educação e emprego aos jovens que, diariamente, se submetem aos traficantes dos morros cariocas.
Ah! Na Colômbia houve também uma "limpeza" na polícia local, além de um empenho substancial das prefeituras, como declara Uribe, em trecho da entrevista: "... confiscamos bens adquiridos ilegalmente dos narcotraficantes. Na cidade de Medellín havia uma série de favelas dominadas pela guerrilha e pelos paramilitares. Ambos grupos financiados pela coca. Colocamos o Exército e a polícia nas favelas com toda a determinação. E prendemos quem estava nesses grupos. Fizemos uma campanha para quem quisesse se desmobilizar. Mais de 40 mil pessoas entregaram as armas."

Que bons ventos tragam a caravela, ops, a comitiva de Cabral de volta à terrinha e que ele mostre coragem, determinação e seriedade para reduzir os mesmos 79% na taxa de homicídio (como em Bogotá) ou, quem sabe, chegar aos 90% como ocorrido em Medellín.
Cabral tem a chance de marcar seu governo no Rio de Janeiro pela redução da criminalidade, como o presidente Uribe ou o prefeito de Nova York, Rudy Giuliani. Basta seguir a rota certa, ao contrário do outro Cabral, e não cair em Cuba, por exemplo...

terça-feira, março 13, 2007

Onde estava Deus naquela hora?

A polícia de Joinville prendeu, na manhã de segunda-feira (12.03), o assassino da menina Gabrielle Cristina, de apenas um ano e sete meses. Ela foi estuprada, estrangulada e deixada à beira da morte dentro da pia batismal de uma Igreja Adventista durante um culto, naquela cidade, na manhã de sábado (03.03) .

Começo este texto com cara de reportagem de jornal mas em meu rosto correm lágrimas de uma mãe, cuja filha, da mesma idade, pode ser a próxima vítima. Talvez não de um crime tão cruel (e qual crime não o é?), mas de uma bala perdida, de um maníaco qualquer, de um atropelamento e de todos os riscos que correm qualquer cidadão comum. E, por isso, eu não consiga seguir as regras do “jornalismo e da ética”. Ao invés disso, despejo sobre estas linhas uma revolta que me persegue há tempos, resumida no título deste artigo.

Neste caso específico, assim como todos os casos que envolvem crianças, a dor que sinto é mísera perto da que os pais desta e de todas as outras vítimas devem sentir.

Uma amiga, que perdeu o filho aos 20 anos baleado em uma lanchonete, disse “todas as mães podem dizer que imaginam o que eu devo estar passando. Mas não imaginam não. É muito pior do que isso”. Por isso, não ouso dizer que “imagino” a dor da mãe de Gabrielle, de João Hélio, de Alana (vítima de bala perdida no RJ), de Priscila (cuja bala perdida a sentenciou a uma cadeira de rodas), de Luciana Novaes (com o mesmo futuro de Alana), de Liana Friedenbach, de Felipe Café, de Gabriela Prado, de Rodrigo Damus, de Georgio Renan, de Hermes Thadeu, e de milhares de vítimas que surgem a cada minuto neste país e no mundo.

Não. Eu não imagino esta dor. Mas choro diante de tudo isso simplesmente em pensar em como seria se tivesse acontecido com um de meus filhos. Se esta dor que sinto neste momento já me arrasta para um choro compulsivo de medo e angustia, o que dizer a estes pais? O que dizer a estes monstros que puxam um gatilho, torturam, estupram e matam pessoas inocentes?

O acusado da morte da pequena Gabrielle chegou na delegacia sob um forte esquema de segurança. Ele teve seus direitos protegidos pela polícia. Direitos que Gabrielle não teve e nenhuma das outras vítimas também não. O direito à vida, à segurança, ao ir e vir.

Quero crer que a polícia, naquele momento, tinha a mesma vontade que nós. De soltá-lo à multidão para que ela acabasse com ele, ali mesmo. Quero crer que depois de preso, este monstro tenha anos de sofrimento que o faça lembrar o horror vivido por aquela pequena garotinha inocente que brincava em uma igreja. Uma criança cuja maior maldade que poderia lhe passar pela cabeça (em seus poucos meses de vida) no máximo seria uma birrinha, de vez em quando.

Gabrielle passou da inocência para a crueldade humana em segundos. Viveu um terror que nenhum de nós pode imaginar.

Se existe mesmo um Deus (que não olhou por ela naquele momento), que este ser a recompense de alguma maneira pela tortura sofrida. Embora, infelizmente, acredito que não haja remédio algum para este sofrimento.

E, se existe um Deus, que permitiu que o “livre-arbítrio” levasse um monstro a fazer o que fez, que este ser faça justiça sobre a mente e o corpo desta abominável criatura que disse “não se lembrar de nada porque estava bêbado”.

Sei que desabafos como este remetem a questões religiosas de cada um e não pretendo debatê-los. Quem quiser, que o faça em seus comentários.

Neste momento posso ouvir uma outra amiga dizendo “Tira esse ódio do coração...”. Ela diz isso com um sorriso nos lábios, é uma brincadeira entre nós, mas não consigo sentir nada além de ódio mesmo diante de situações assim. Que o assassino terá seus momentos críticos na prisão, eu não tenho dúvidas. Mas isso não aliviará a dor dos pais de Gabrielle e nunca responderá a pergunta: onde estava Deus naquela hora?

Talvez exista um Deus que tenha colocado a polícia na pista certa para prender aquele monstro, na pista certa para pegar os assassinos de João Hélio. Um Deus um tanto atrasado, na minha opinião.

Sei que o debate vai além da religião e sim na falta de segurança pública e privada, no caso de Gabrielle, que estava dentro de uma igreja, cuja segurança cabia à instituição. Mas, não me surpreenderá nem um pouco se, ao longo das notícias, soubermos que o pedreiro que a matou já tinha um histórico de pedofilia, havia sido solto ou coisa parecida.

Neste momento, só consigo pensar no tão poderoso Deus que algumas religiões pregam ser onipresente e que tem como missão cuidar de seus filhos, tementes a Ele.

Aliás, não era este o caso de Gabrielle que, estava em uma igreja, ou melhor, na casa d’Ele mesmo?

sexta-feira, março 09, 2007

Que povo é esse?

Protestos contra a vinda do “satã” George Bush mobilizaram as principais capitais do país. Milhares de manifestantes foram às ruas gritando e exibindo faixas e cartazes com os dizeres “FORA BUSH”, sem falar na nudez oportunista que aprimorou o discurso com “OUT” Bush de uma mulher que, com sua loirice extravagente, mais parecia americana do que tipicamente brasileira.

Em São Paulo o protesto gerou confronto entre a polícia e os manifestantes. Sabe-se lá de onde começou a pancadaria, mas o fato é que o espetáculo brasileiro reforçou a imagem de um povo medíocre política, cultural e economicamente.
Onde estavam estes manifestantes quando os Parlamentares tentaram aumentar em 91% seus já reforçados salários? Por onde andavam estes corajosos militantes durante os dois últimos anos de denúncias de corrupção, mensalões, manobras jurídicas e políticas?

Revivemos um momento político mal explicado para a grande parte da sociedade que foi a mobilização popular pré-regime militar. Jovens manipulados por um pré-conceito implantado por movimentos políticos cujos interesses nada mais são (e eram) do que seus próprios holofotes. Antes, era a implantação do comunismo disfarçado de "liberdade de expressão". Hoje, na simples exposição da mídia.
São contra um acordo comercial entre o Brasil e os Estados Unidos na troca de tecnologia da produção do Etanol, a mais nova estrela da nossa economia. Se Bush quer redução do preço do Etanol fornecido aos Estados Unidos e- de quebra – livrar-se da pseudo-dependência do Petróleo Venezuelano, faz parte das negociações. Nada vejo de excepcional nisso. Bush não é o responsável por décadas de submissão brasileira diante das exigências comerciais norte-americanas.

Protestar contra a guerra no Iraque é ainda mais hilário e nem perderei meu tempo – nem o seu – comentando este despertar atrasado do nosso povo que nunca está no lugar certo na hora certa.

Por mim, faria um manifesto “Fora, povo brasileiro!”

Quanto ao Etanol, a ganância de Lula em tornar-se o presidente que fará do Brasil o principal fornecedor do combustível alternativo, no mundo, terá um preço muito mais alto do que a pechincha de Bush.
O Ministério da Agricultura prevê um aumento de 10% na produção de etanol, na safra de 2006/2007 e dobrar a produção até 2012, para garantir o abastecimento dos mercados da Europa e dos Estados Unidos. Ótimo para a economia do país! Péssimo para os cortadores de cana, considerados escravos por todas as instituições ligadas ao setor. Denúncia antiga (e nunca levada em conta) que já chegou ao conhecimento do exterior. Hoje, o jornal britânico The Guardian publicou o seguinte artigo, cujo título resume-se a: 'Escravos' sustentam 'boom' do etanol no Brasil (Brazil's ethanol slaves: 200,000 migrant sugar cutters who prop up renewable energy boom)

E não é exagero. Apenas no ano passado, o trabalho pesado matou (por exaustão) 17 cortadores de cana, segundo a Pastoral do Migrante ligada à igreja católica. As condições de trabalho destes “escravos” estão mais detalhadas no site: http://www.pastoraldomigrante.org.br/artigo01.html. Mas, em resumo, atualmente um único cortador realiza as seguintes atividades todos os dias (sem feriado ou fim de semana livres):

· Caminha 8.800 metros;
· Despende 366.300 golpes de podão;
· Carrega 12 toneladas de cana em montes de 15 kg. em média cada um, portanto, ele faz 800 trajetos levando 15Kg. nos braços por uma distância de 1,5 a 3 metros;
· Faz aproximadamente 36.630 flexões de perna para golpear a cana;
· Perde, em média 8 litros de água por dia, por realizar toda esta atividade sob sol forte do interior de São Paulo, sob os efeitos da poeira, da fuligem expelida pela cana queimada, trajando uma indumentária que o protege, da cana, mas aumenta a temperatura corporal.

Com o Brasil prestes a se tornar o rei do Etanol, será que esta triste realidade de trabalho canavial mudará? Será que os milhões de reais vindos do fornecimento do Etanol chegará, de alguma maneira, às mãos destes trabalhadores que, hoje, recebem o farto salário de R$ 413,00 por mês?

Bom, para quem acredita que o PT nunca perdeu o foco de tornar o Brasil no socialismo disfarçado, vale a pena lembrar que a China anunciou a criação de um campo socialista de trabalho para incrementar o PIB daquele país. Entenda, trabalho escravo em nome da economia.

É... ainda bem que os mais de 10 mil processos por improbidade administrativa não estão à beira do arquivamento, nem o salário dos juízes estaduais bateu o teto dos R$ 24,5 mil, nem o violência matou mais de 55 mil brasileiros no ano passado no Brasil e, muito menos, que o país investiu mais no transporte de prisioneiros do que na segurança pública, entre outras tantas notícias que não cabem ao nosso país.
Realmente, nunca tivemos motivo para protestar, exceto pela vinda de George Bush ao Brasil.
(interessante o comentário de "Ruy" a quem redigi uma resposta também dentro dos comentários)