terça-feira, junho 13, 2006

Não estou sozinha

Falso patriotismo II

Em referência ao artigo anterior deste blog, "Copa, cozinha e outras bolas", junto minha humilde voz à fantástica coluna de Janer Cristaldo. Vale a pena ler - palavras muito bem ditas - que sentimento é este que nos revolta em tempos de Copa do Mundo.

Janer, a palavra é sua!

"Saudades do Obdulio"

sexta-feira, junho 02, 2006

Onde estão os eleitores de Lula?


A pesquisa mais recente do Ibope (encomendada pela TV Globo) mostrou que Lula venceria já no primeiro turno: Lula 48% x Alckmin 18%. A vantagem de Lula aumentaria ainda mais ao excluir os votos brancos e nulos: Lula 62% x Alckmin 24%.

Eu, sinceramente, acho isso um fenômeno, uma grande incógnita! Das pessoas com as quais converso, nem dez por cento delas votam em Lula. Talvez meu círculo de amigos seja restrito demais (taxistas, caixas de supermercados, faxineira, professora, porteiro, jornalistas, estudantes...)!

Talvez o Ibope tenha passado tempo demais no Nordeste, onde o eleitorado de Lula chega a 68%. Região onde metade da população convive com a falta de informação e a fome. Segundo pesquisa do IBGE (maio/2006), dos 14 milhões de brasileiros que passam fome, metade está no Nordeste. É para lá que vão cerca de 54,7% dos recursos do Bolsa Família. Mesmo assim, eles continuam passando fome... os eleitores de Lula passam fome mas recebem o benefício, por isso votam em Lula...?

Voltando à região Sudeste, em São Paulo, um encontro recente entre empresários revelou algo inusitado. A maioria acredita que Lula seja reeleito, embora votem em Alckmim. Estavam reunidos trezentos e cinqüenta empresários. Destes, 93% disseram votar em Alckmim e apenas 5% votariam em Lula.

Se não são os taxistas, faxineiros, professores (pessoas comuns, em geral) e nem os empresários, quem são os eleitores de Lula? Quem? Quem? Quem? Hummm... além dos 68% dos nordestinos, talvez os integrantes das Organizações Não Governamentais (ONGs), Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs) e Fundações que levaram R$10,3 bilhões do governo federal nos últimos seis anos, entre eles, o MST. Pesquisa feita pelo site Contas Abertas, em março deste ano, mostra que entidades ligadas ao MST receberam (só no ano passado) R$ 9,5 milhões do Orçamento Geral da União (quantia quatro vezes maior do que a destinada ao movimento no último ano de governo de FHC, que foi de R$ 2,17 milhões).

O governo federal compra seus votos. De uma maneira ou de outra, compra. Se ele aplicasse os impostos corretamente, não precisaria comprar nada. Teria os votos como recompensa pelas rodovias recuperadas, hospitais dignos, moradia e emprego para todos. Mas, no Brasil, aplicação correta de impostos é utopia!

Pra finalizar, vale lembrar que o IBOPE errou feio ao divulgar que 55% dos brasileiros votariam contra a proibição da venda de armas e munição no país. O resultado final foi de 64% de vitória do Não. Um erro de 9%, bem acima dos 2% previstos pelo instituto. A justificativa para tal diferença é que o brasileiro ainda estava formando a opinião quando a última pesquisa foi feita, entre os dias 18 e 20 de outubro. O referendo aconteceu apenas 3 dias depois da pesquisa.

Vale a pena esperar a evolução dos números do IBOPE. Mas, mantenho minhas dúvidas... quem, afinal, representa estes 62% dos votos de Lula? Vale lembrar ainda que os eleitores do Nordeste equivalem a apenas 27% do total de eleitores do país.
Êta continha complicada de se entender!

quinta-feira, junho 01, 2006

Copa, cozinha e outras "bolas"

Hoje, meus filhos me disseram que estou muito "paranóica". Fiquei muda. "Será?", pensei eu....

Falávamos sobre a Copa (na cozinha), sobre o quanto eu detesto este momento de falso patriotismo. Falávamos do quanto está em jogo, além da bola e do título. Dos patrocínios e do quanto as pessoas ganham e perdem com a Copa. Para mim, a sociedade só perde. Tirando os fabricantes de televisão e o comércio em geral, a sociedade só perde quando os bancos mudam o horário de funcionamento, as repartições públicas fecham as portas duas horas antes dos jogos e assim por diante.

A sociedade só perde quando volta seus olhos para os gramados alemães enquanto outras "bolas" rolam soltas nos gramados do Congresso. Tentei dizer a eles que se o Brasil vencer ou perder qualquer jogo da Copa, ou o próprio título aos quarenta e cinco minutos do segundo tempo, minha vida continuará a mesma! Mas não adiantou, fiquei de paranóica mesmo. Aquela que não acredita em mais nada e está com o coração duro com a falta de esperança. Se não fosse meu marido dar uma mãozinha e explicar que cada fase tem sua visão da vida e que, antes, pensávamos como eles, assim como amanhã (muitos amanhãs, aliás) eles se lembrarão desta conversa e também pensarão como nós, a conversa teria terminado em dez a zero para eles.

Mas, enfim, é isso aí. Não gosto da Copa, de ver os brasileiros vestindo verde e amarelo - felizes da vida - enquanto deixam de se mobilizar contra a impunidade, a corrupção, a violência, a falta de investimento na educação, transporte e moradia. Brasileiro pára diante da TV para assistir aos jogos da Copa (mesmo que seja Togo x Trinidad e Tobago), mas nem prestaram atenção quando Delúbio, Silvinho, Duda Mendonça, José Dirceu ou Marcos Valério foram às CPIs.

Não gosto de ver os brasileiros ligados nos comentários esportivos, quando nem sabem qual o canal da TV Câmara ou Senado.

Não gosto de ver os brasileros ditando a escalação de Parreira, enquanto mal sabem o nome de meia dúzia dos quarenta da "organização criminosa".
Sim, não gosto da Copa e da falta de patriotismo real dos brasileiros. Entendo que o povo precise se divertir, se distrair um pouco, explodir diante de um gol, prender a respiração quando Baggio for marcar um pênalti (ué, o Baggio não é mais da seleção italiana?)... concordo com tudo isso mas, como diz meu pai, primeiro a obrigação, depois a diversão. Vamos fazer o dever de casa, pra depois relaxar no recreio.

Quando a Copa terminar, a campanha eleitoral já estará nas ruas e o Congresso de férias. Se o Brasil vencer, o brasileiro estará nas nuvens, acreditará em tudo o que vir e ouvir. Se perder, o mal humor reinará sobre as mesas de bar e nada fará o torcedor vestir a camisa do país ou parar diante da tv, muito menos para assistir aos programas eleitorais ou aos debates políticos. Portanto, a Copa, ainda por cima, levará o torcedor/eleitor a uma inércia política. Aliás, sejamos realistas, uma característica de grande parte deste povo que precisa da Copa para ter orgulho do seu país.