sexta-feira, junho 15, 2007

Déjà vu

Se você, assim como eu, tem a sensação de estar revivendo situações, pode estar sofrendo do que eu chamo de Déjá vu à brasileira. Uma síndrome que vejo acontecer com muito mais freqüência aqui do que em outros países e que pode causar múltiplos transtornos. Por exemplo, não saber diferenciar o presente do passado. E, o que é pior. Ter a certeza de que será o mesmo no futuro.

Nas manchetes policiais, perdi as contas de quantas vezes li frases como estas:
"PF prende 30" (dias depois) "Justiça solta os 30 presos pela PF". (apenas os números mudam)

Na política:
"A denúncia é falsa e vou provar minha inocência"
"Eu nunca vi este senhor" (dias depois) "Estive com ele uma ou duas vezes"
"Conselho de ética analisa processo contra deputado" (dias depois) "Conselho de ética arquiva processo"
"Deputados aprovaram emenda em benefício de empresa" (Máfia das ambulâncias ou da Gautama?)
"Denúncia de caixa 2" (PSDB, PT ou Collor?)

As falas do presidente Lula são as que mais me confundem:
"Eu não sabia!"
"Fui traído"
"Ele é um homem de bem, confio nele até que se prove o contrário"(é sobre Dirceu, Genuíno, Delúbio, Duda Mendonça ou o irmão Vavá?)
"O Brasil nunca esteve tão bem"
"O brasileiro tem que parar de falar mal do seu país"
"Vamos parar de falar de violência"(isso foi anos atrás ou recentemente na campanha pelo Cristo Redentor?)

Não faltam exemplos. O que falta é um ponto final neste padrão. Não só neste, mas também nas falas repulsivas de muitas autoridades. Se é que, hoje em dia, pode-se chamar "político" de autoridade.

Depois do famoso "estupra, mas não mata" de Maluf e do "as mulheres de hoje trabalham deitadas e descansam em pé" de Clodovil, Marta Suplicy soltou o"relaxa e goza". Estamos baixando o nível das reprises ou é impressão minha? Pelo jeito, ainda teremos muito o que ouvir até o final do mandato Lula.

A sensação de Déjà vu teve outro episódio essa semana, com o adiamento (pela quarta vez) da posse de Mangabeira na Secretaria de Planejamento Estratégico. Dizem que será na terça-feira. O país do repeteco é também o da retaliação. Quem chamou o governo Lula de o mais corrupto da história e pediu o impeachment do presidente está sendo fritado antes mesmo de receber o cargo. Mas ele chega lá. Todos chegam!

Depois de analisar alguns destes flashes de memória, imagino que se eu acordar de um coma daqui a 19 anos, como o polonês Jan Grzebski, acredito que vou encontrar tudo na mesma, ou pior.

"Tira o tubo!"

quarta-feira, junho 13, 2007

Uma luz na escuridão

Ufa! Finalmente tem algo de bom acontecendo por aqui. Neste país, onde a justiça se vende tão facilmente, uma sentença deixou-me feliz. Deixaram a Míriam divulgar o nome da escola e da editora responsáveis por colocar em sala de aula apostilas "pornomarxistas". Para quem pegou o bonde andando, seguem os capítulos anteriores:

O fato foi citado no texto "Eles querem nossos filhos", publicado em abril, aqui no site. Míriam Macedo (jornalista, mãe e corajosa) encontrou vários textos com claras tendências esquerdistas nas apostilas usadas na escola de sua filha. Tirou a filha de 15 anos da escola e denunciou o fato na internet. A justiça a obrigou a omitir os nomes dos responsáveis pelo material "didático" e da escola. A revista Veja desta semana disse que a justiça, agora, recuou e decidiu que ela pode sim divulgar os mesmos. Se ela pode, todos nós podemos!

A decisão da justiça é uma migalha perto do prejuízo intelectual que este material poderia ter causado no solo fértil destes mentes ainda jovens. Mas, por uma migalha, solto rojões. Que triste comemorar uma simples autorização. Quisera eu estar comemorando o impeachment do presidente Lula, a condenação de todos os políticos envolvidos no mensalão, nas propinas de empreiteiras, ou simplesmente o cumprimento das leis. Porém, mais tristes ainda devem estar os diretores do COC (dono das apostilas) e do Colégio Pentágono de São Paulo, onde a filha de Míriam estudava. E certamente o estão, como relata um aluno do Ensino Médio da escola em questão.

Pedro de Castro Magalhães Gomes comentou o artigo deste site defendendo a reputação dos professores da escola neste episódio. O texto, muito bem escrito por sinal (digno de um professor ou até mesmo do dono da escola) me pareceu um formato padrão em resposta à Veja e à Míriam muito mais do que a mim, já que a maioria das citações que ele faz eu não havia sequer mencionado em meu artigo. Para quem o leu, verá que o caso "pornomarxista" é apenas um dos exemplos citados por mim do uso da sala de aula como palanque comunista.

Ao Pedro, meus respeitos aos seus sentimentos, embora a escola (mesmo que não faça uso total do material - como garante o aluno - e também possua professores capazes de orientar o jovem a pensar livremente ao invés de submeter-se a uma doutrina) continua sendo responsável pelo material que disponibiliza aos alunos. Ou uma escola não tem obrigação de verificar o conteúdo dos livros que impõe? Tanto se sente responsável que a escola não renovou o contrato com o COC!

O diretor do grupo COC também reconhece a imprudência. A menos que a revista Veja tenha inventado tal fala, Chaim Zaher, diretor do grupo, afirmou: "Erramos mesmo". Ele avisou ainda que fará uma revisão de suas apostilas usadas por 220.000 estudantes.

Como um náufrago que se apega ao primeiro sinal de salvamento, a simples vitória de Míriam na justiça me faz dormir um pouco mais aliviada. Há uma luz no fim do túnel. Um brinde à Míriam Macedo e à justiça.

Mas, só por hoje!

segunda-feira, junho 04, 2007

O peso das palavras

A palavra tem o peso que se quer que ela tenha. Eu dou muito peso a elas principalmente quando vêm de pessoas bem informadas e que conseguem enxergar por trás do óbvio. Pena que estas pessoas estão se calando pouco a pouco e deixando que outras, cujas palavras são na maioria "não sei" "não fui" "não sabia", tenham um peso tão grande que conseguem ofuscar aqueles que realmente têm algo a dizer.

Há tempos venho percebendo que o blog de um conhecido meu não estava sendo atualizado como antes. A agilidade e a inteligência com que ele comentava os fatos mais relevantes do nosso país já não eram mais os mesmos. Os textos começaram a minguar, embora continuassem com a mesma fúria ácida que sempre admirei. Aos poucos, nem minguavam mais. Acabou. A fonte de inspiração secou. Não a dele, mas a de muitas pessoas que - assim como eu - se deleitavam com suas palavras certeiras.

Hoje, ele me explicou. "Parei de escrever porque simplesmente não adianta." E ele, mais uma vez, tem razão. Nada adianta neste país.

A imprensa fala, a Polícia Federal fala, o Ministério Público fala e o que acontece? Muito barulho e nada mais. Até os políticos falam! Maluf disse que há um esquema de compra do resultado eleitoral (mesmo com voto eletrônico). Falou que foi procurado pelos "vendedores" que teriam como fraudar o resultado das eleições. Ele garante que não comprou!

Por outro lado, há aqueles que falam e tudo se resolve. Mesmo quando falam para negar tudo. Lula nega saber das falcatruas de sua filha Lurian (ex-Ong Rede 13) e do filho Lulinha (Gamecorp). Nega ter participação no caixa 2 do PT, no dinheiro do exterior, no assassinato político de Celso Daniel, na quadrilha do mensalão, etc. Foi reeleito.

Renan Calheiros negou troca-troca com a Mendes Júnior e isso bastou. Aliás, "negar" é o verbo dos novos tempos. Todo mundo nega até que se prove o contrário e, mesmo assim, provas hoje em dia não dizem nada. Zuleido Veras, como eu já havia dito - e era de se esperar - é o atual renegado. Os políticos negam tudo em relação a ele. "Zuleido quem?" "Falei com ele uma ou duas vezes" "Aquele de bigode, dono da Gautama? Não conheço".

Existem ainda aqueles que falam e se dão mal. Um certo caseiro falou muito sobre Palocci em uma mansão. Ficou desempregado e desacreditado. Palocci, virou deputado federal. Veremos qual será o futuro do ex-assessor de Rondeau depois de ele dizer que o ex-patrão teve um encontro com Zuleido "Charles Bronson" Veras.

Entre tantos disse-me-disse, nego a explicação do meu amigo e exijo (outra palavra de ordem) a volta de seus textos imediatamente! É preciso falar, falar e falar, cada dia mais! Mesmo que não dê resultado algum, pelo menos é bom irritar os simpatizantes dessa política suja, canalha e desonesta nas quais está mergulhado o poder deste país.