A aviação, que fez com que tantas crianças e jovens sonhassem em se tornar pilotos e aeromoças, no Brasil é, hoje, sinônimo de medo, revolta, sofrimento e decepção. O sonho transformou-se em pesadelo em menos de dez meses, período em que dois acidentes mataram quase quatrocentas pessoas. Destruiu famílias inteiras, forçou o brasileiro comum a aprender, por exemplo, que um transponder não pode ser desligado e que uma pista de pousos e decolagens não deve ser liberada sem o grooving.
Estas novas lições jamais serão esquecidas, pelo menos por nós, cidadãos comuns que não pilotamos, não construímos pistas mas sofremos junto àqueles que perderam filhos, netos, pais, amigos, noivas, esposas...sonhos. O que, aparentemente, não aconteceu com aqueles que são responsáveis por evitar que novas tragédias acontecessem.
Uma lição antiga parece não ter sido aprendida pela própria TAM: um avião não deve voar com problemas no reverso! Esta, até nós já sabíamos, desde 1996, quando um Fokker-100 (da mesma TAM) caiu poucos minutos após a decolagem. A causa? Uma "rara combinação entre falha humana e mecânica", entre elas, defeito no reverso (que auxilia na frenagem durante o pouso). Neste caso, o reverso foi acionado durante o vôo causando a queda. Agora, a falha pode ter impossibilitado o pouso e matado mais de duzentas pessoas.
Tudo isso é assunto para investigação que, pra variar, vai levar à agonia famílias que mal conseguirão enterrar seus parentes, vítimas, provavelmente, de uma "combinação rara de vários erros". Afinal, esta também foi a conclusão da tragédia com o avião da Gol. O que impedirá que gora seja também a resposta para as duzentas vítimas do vôo 3054? "Falha mecânica e humana agravada pelo estado da pista e a chuva"... ficaremos sabendo, talvez, daqui a dez meses ou até dois anos.
Por que nós, que aprendemos as lições, vamos ter que repetir o ano? Seremos obrigados a acompanhar as degravações das caixas pretas, reconstituição do acidente, identificação dos corpos, enterros e mais enterros! Não somos obrigados a pagar pelos erros das autoridades!
Por que o governo preferiu investir quase 20 milhões de reais no embelezamento do Aeroporto de Congonhas, ao invés de garantir a segurança na pista? E da TAM que, mesmo sabendo que o Airbus havia apresentado problemas no reverso uma semana antes, nada fez, importando-se apenas em garantir mais vôos para a empresa? Por que a pista de Congonhas foi liberada antes de suas obras terminarem? Quem a liberou? Estas respostas serão meros esquivos, não convencerão e nem devolverão a vida àqueles que se foram por causa da imprudência e da ganância daqueles que deveriam cumprir o seu papel, que é o de garantir a segurança.
Penso em qual (e quando) será a nossa próxima lição... passou da hora de "eles" aprenderem algumas lições.
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