sexta-feira, julho 06, 2007

Jogo de cartas marcadas

Renan Calheiros está certo. Ele não deve mesmo renunciar.

Moralmente falando (se é que ainda existe um pouco de moral no Congresso), quando um senador ou deputado renuncia ao cargo diz à população que está interessado apenas em manter seus direitos políticos. E, moralmente falando, Renan Calheiros já foi exposto. Todos já sabem quem paga suas contas e a sua imensa (e mágica) capacidade como pecuarista. Resta a Calheiros esperar para ver quem terá coragem de abatê-lo. Assim como Renan, eu também estou pagando para ver o fim dessa história, até porque, o Presidente do Senado não deve ter apenas o "dossiê ignorado" (como auto-intitula o relatório de sua defesa). Devem ser vários os dossiês guardados em seus currais. E muita gente sabe disso. Não é à toa que o processo no Conselho de Ética apresenta irregularidades capazes de anulá-lo. Calheiros é forte como um touro!

Bem menos forte, Joaquim Roriz renunciou sozinho. Por enquanto. Gim Argello, que assumirá o lugar de Roriz, bebeu da mesma fonte e poderá ter que escolher, em breve, entre a cassação ou a renúncia. Creio em uma nova renúncia. Será que o ex-deputado e empresário, Wigberto Tartuce, e Nenê Constantino, dono da Gol, vão querer que este caso vá mais longe do que já foi? Creio que não.

Teriam que explicar muita coisa sobre a venda do tal terreno do governo do DF que, um ano depois, valorizou 170% graças a um projeto do então governador Roriz.. E, se Argello renunciar, quem aparece para substituir o substituto é ninguém menos que Marcos de Almeida Castro, irmão de Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido por livrar políticos de denúncias e é também amigo de José Dirceu. Precisa dizer mais alguma coisa? Precisa.

Se eles estão pouco ligando para a imagem "moral", o futuro das investigações criminais também não lhes importa muito. Elas têm rumo certo: a impunidade. Quem garante é a própria Associação dos Magistrados Brasileiros. Parecia piada, mas não era. Juízes fizeram manifestação contra a impunidade! Pois foi exatamente isso que aconteceu.

Diante de tanta indignação do povo brasileiro perante as denúncias (que parecem nunca ter fim - e não terão mesmo) e a falta de punição, os magistrados correram para se defender e só faltaram chorar. Disseram que o STF (Supremo Tribunal Federal) não condenou autoridade alguma, desde a Constituição de 1988, simplesmente porque não têm condições de julgar tantos processos. Na realidade, nenhuma autoridade foi condenada nos últimos 40 anos!

Das duas uma: ou temos políticos sujos demais ou as instituições julgadoras são incompetentes. Aposto em ambos.

Em uma coisa eu concordo com eles. Esse "foro privilegiado" tem que acabar. Aliás, isso mais parece um "forro" privilegiado, uma tenda onde eles se protegem da luz da verdade e da justiça. Por mim, acabaria também com essa tal Comissão de Ética. Existe uma suspeita de irregularidade envolvendo parlamentar? Ele deveria ser imediatamente afastado do cargo. De tanto usar a declaração de que alguém é "inocente até que se prove o contrário", o país está cheio de bandidos nas ruas, no Congresso e nos Governos.

Graças a tudo isso é que estamos vendo, hoje, o presidente do Senado envolvido em propina e transações pecuárias milagrosas, senadores repartindo um cheque de dois milhões de reais (o que também parece ser propina por uma transação imobiliária) e mais! Graças a isso, Lula pretende trazer de volta Silas Rondeau ao Ministério das Minas e Energia, suspeito de levar R$100 mil da Gautama.

Em pouco tempo teremos de volta também José Dirceu.

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