A expressão "a verdade está lá fora", do seriado norte-americano Arquivo X, nunca caiu tão bem ao Brasil quanto agora. Os Estados Unidos sabem mais das verdades do Brasil do que nós mesmos. Ou - o que é mais certo - falam aquilo que nós tentamos esconder.
E, para começar, vamos olhar para o céu. Não tão longe quanto os agentes Mulder e Scully fariam. O céu sobre a Amazônia já está de bom tamanho.
Não acreditávamos, mas o buraco negro é ali. E quem o denunciou foi um americano. Num primeiro momento, o jornalista Joe Shakey foi excomungado pelos brazucas. A bordo do jatinho Legacy, Sharkey (mesmo que tenha sentido apenas um pequeno abalo) foi testemunha do maior acidente aéreo do país. Culpou o sucateamento do tráfego aéreo brasileiro pela falha na comunicação. Certamente não foi a única causa do acidente, mas foi um de uma série de erros que causou a morte de 154 pessoas. Para quem acompanha a cruzada de Sharkey, em seu blog, o jornalista nos despe de nossa cegueira ignorante e submissa. Somos obrigados a engolir a seco trechos assim: "that Brazilian media are very easily manipuilated.", "Surely you don't expect the harrumphing third-world martinets marching around in Brazil to actually FIX their broken air-traffic control system! Don't be silly!"
Muitos de nós ainda prefere refutar...
Agora, o cinema americano exibe "Turistas". Outra batata quente que a maioria de nós prefere jogar para o caldeirão da ficção, ao assumir a verdade. No filme, um grupo de jovens americanos vem passar férias no Brasil. Depois de sofrerem um acidente de ônibus, eles caem numa praia paradisíaca e são vítimas de traficantes de órgãos. São torturados, alguns mortos e descobrem uma rede de tráfico liderada por um médico.
Bom... dá pra imaginar a reação aqui no Brasil. Excomungaram (de novo) os sensacionalistas hollywoodianos que só querem (de novo) denegrir a nossa imagem, que tudo não passa de ficção absurda.
Ficção? Onde!? Talvez seja realmente mentira que turistas sejam assaltados e assassinados no Brasil. Foi pura ficção a atrocidade contra os seis portugueses, em 2001, em Fortaleza. Talvez tenha sido apenas um pesadelo a morte do turista (também português) assassinado na praia de Copacabana, em agosto deste ano. Ou as dezenas de assaltos contra suíços, ingleses, chineses, franceses, no Rio de Janeiro (só este ano!). O estupro de uma turista na praia paulista... é, talvez seja também mera ficção a retirada de órgãos clandestina, em Recife. O assassinato de doadores em Taubaté, Poços de Caldas e várias outras cidades investigadas na CPI do Tráfico de Órgãos, em 2004.
Enquanto nada disso acontece, o brasileiro rejeita o filme, rejeita os fatos, prefere viver uma Matrix tupiniquim (sem o Keanu Reeves, é claro!) e tem a coragem de ainda defender o país! Sequer pensou que o filme poderia ser (assim como as palavras de Sharkey) uma boa oportunidade de escancararmos para o mundo todo a repressão em que vivemos, o massacre moral, a falta de dignidade, de perspectiva, de seriedade! Não. Vamos recuar duzentos passos ao invés de darmos um adiante. Não. Vamos enfiar a cara no buraco e deixar o traseiro à mostra.
Quer saber? Somos um povo ainda mais doente do que eu poderia imaginar. Somos a raiz da síndrome de Estocolmo! Merecemos, não acha?
Ainda há esperança, porém. Enquanto não tivermos coragem de enfrentar, sempre haverá alguém (lá fora) que o faça.
E, para começar, vamos olhar para o céu. Não tão longe quanto os agentes Mulder e Scully fariam. O céu sobre a Amazônia já está de bom tamanho.
Não acreditávamos, mas o buraco negro é ali. E quem o denunciou foi um americano. Num primeiro momento, o jornalista Joe Shakey foi excomungado pelos brazucas. A bordo do jatinho Legacy, Sharkey (mesmo que tenha sentido apenas um pequeno abalo) foi testemunha do maior acidente aéreo do país. Culpou o sucateamento do tráfego aéreo brasileiro pela falha na comunicação. Certamente não foi a única causa do acidente, mas foi um de uma série de erros que causou a morte de 154 pessoas. Para quem acompanha a cruzada de Sharkey, em seu blog, o jornalista nos despe de nossa cegueira ignorante e submissa. Somos obrigados a engolir a seco trechos assim: "that Brazilian media are very easily manipuilated.", "Surely you don't expect the harrumphing third-world martinets marching around in Brazil to actually FIX their broken air-traffic control system! Don't be silly!"
Muitos de nós ainda prefere refutar...
Agora, o cinema americano exibe "Turistas". Outra batata quente que a maioria de nós prefere jogar para o caldeirão da ficção, ao assumir a verdade. No filme, um grupo de jovens americanos vem passar férias no Brasil. Depois de sofrerem um acidente de ônibus, eles caem numa praia paradisíaca e são vítimas de traficantes de órgãos. São torturados, alguns mortos e descobrem uma rede de tráfico liderada por um médico.
Bom... dá pra imaginar a reação aqui no Brasil. Excomungaram (de novo) os sensacionalistas hollywoodianos que só querem (de novo) denegrir a nossa imagem, que tudo não passa de ficção absurda.
Ficção? Onde!? Talvez seja realmente mentira que turistas sejam assaltados e assassinados no Brasil. Foi pura ficção a atrocidade contra os seis portugueses, em 2001, em Fortaleza. Talvez tenha sido apenas um pesadelo a morte do turista (também português) assassinado na praia de Copacabana, em agosto deste ano. Ou as dezenas de assaltos contra suíços, ingleses, chineses, franceses, no Rio de Janeiro (só este ano!). O estupro de uma turista na praia paulista... é, talvez seja também mera ficção a retirada de órgãos clandestina, em Recife. O assassinato de doadores em Taubaté, Poços de Caldas e várias outras cidades investigadas na CPI do Tráfico de Órgãos, em 2004.
Enquanto nada disso acontece, o brasileiro rejeita o filme, rejeita os fatos, prefere viver uma Matrix tupiniquim (sem o Keanu Reeves, é claro!) e tem a coragem de ainda defender o país! Sequer pensou que o filme poderia ser (assim como as palavras de Sharkey) uma boa oportunidade de escancararmos para o mundo todo a repressão em que vivemos, o massacre moral, a falta de dignidade, de perspectiva, de seriedade! Não. Vamos recuar duzentos passos ao invés de darmos um adiante. Não. Vamos enfiar a cara no buraco e deixar o traseiro à mostra.
Quer saber? Somos um povo ainda mais doente do que eu poderia imaginar. Somos a raiz da síndrome de Estocolmo! Merecemos, não acha?
Ainda há esperança, porém. Enquanto não tivermos coragem de enfrentar, sempre haverá alguém (lá fora) que o faça.
Um comentário:
Concordo plenamente.
Encarar nossos problemas deveria ser o primeiro passo, mas parece que a maioria prefere sambar, vender a imagem do país tropical abençoado por Deus e continuar levando na cara...merecido! É a imagem real, sem distorções de um Brasil que conseguimos amar e odiar.
A revolta com o olhar que vem de fora e enxerga o que não queremos ver parece bem mais fácil que olhar para o próprio o umbigo.
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