Sérgio Cabral, eleito governador do Rio de Janeiro, encontrou na capital do Estado uma cidade sitiada. Refém da corrupção, do tráfico de drogas, da violência que desceu o morro e fez dos cariocas – um povo bonito, alegre e confiante – o retrato do medo urbano. Parecia ter descoberto algo novo. Um Brasil ainda desconhecido... apenas por ele, não por nós. Muito menos por aqueles que lá vivem.
Quinhentos anos atrás, ou pouco mais do que isso, um outro Cabral pretendia ir à Índia. Encontrou outras terras, terras "novas" como seriam chamadas. De "novo", nada havia. Aliás, nem teria sido ele o primeiro a desembarcar por nossas terras. Mas ficou a ele o título de descobridor do Brasil.
Hoje(22.03), o nosso Cabral desembarcará num país conhecido por ser o maior fornecedor de cocaína no mundo. Encontrará na Colômbia muito mais do que isso. Terá a "surpresa" de ver que a criminalidade tem cura. Nada de novo, de novo. Qualquer sociólogo de plantão terá todas as fórmulas para devolver ao Rio o título de "cidade maravilhosa". Cabral irá à Colômbia para descobrir o óbvio: empenho, seriedade, punição, investimento social, etc.
Álvaro Uribe pode ter todos os defeitos do mundo, como qualquer governante os tem. E nós, com o governante que temos, não podemos abrir nossa boca miúda para fazer qualquer crítica que seja. Vale lembrar os últimos escândalos envolvendo os governos colombiano e brasileiro.
Aliados de Uribe foram acusados de envolvimento com o narcotráfico. Sendo a Colômbia o segundo país a receber os maiores recursos do governo Bush no combate ao tráfico de drogas, as pressões internacionais foram grandes o suficiente para que providências fossem tomadas e talvez tenha sido este o diferencial dos rumos tomados entre os escândalos daqui e os de lá. Na Colômbia, pelo menos oito congressistas foram presos e dezenas ainda estão sendo investigados. Aqui... sem comentários. Uma semelhança, porém, há de ser citada. Tal qual o nosso governante, Uribe disse que não sabia de nada. Defendia seus aliados até o último minuto.
Comentários políticos à parte, vamos ao que interessa: a questão da diminuição da criminalidade, tema central da visita de Sérgio Cabral e Aécio Neves (o que ele vai fazer lá?) à Colômbia.
Em entrevista à Folha de São Paulo, Uribe foi objetivo: combater o narcotráfico requer muitas ações, entre elas uma ação militar efetiva. Além de oferecer aos agricultores alguma recompensa por trocar o cultivo da coca por outras culturas. O medo de uma punição mais severa pode fazer com que os colaboradores dos traficantes troquem mesmo de patrão. Eles certamente não terão o mesmo lucro, mas terão garantias como segurança, ajuda do governo e incentivo fiscal. Poucos sabem, mas a Colômbia, hoje, é o segundo maior exportador de biocombustível da América Latina produzindo etanol com palma africana, mandioca e cana-de-açúcar, mas também está estudando a utilização do milho.
Tomando como exemplo, seria mais ou menos oferecer segurança, educação e emprego aos jovens que, diariamente, se submetem aos traficantes dos morros cariocas.
Ah! Na Colômbia houve também uma "limpeza" na polícia local, além de um empenho substancial das prefeituras, como declara Uribe, em trecho da entrevista: "... confiscamos bens adquiridos ilegalmente dos narcotraficantes. Na cidade de Medellín havia uma série de favelas dominadas pela guerrilha e pelos paramilitares. Ambos grupos financiados pela coca. Colocamos o Exército e a polícia nas favelas com toda a determinação. E prendemos quem estava nesses grupos. Fizemos uma campanha para quem quisesse se desmobilizar. Mais de 40 mil pessoas entregaram as armas."
Que bons ventos tragam a caravela, ops, a comitiva de Cabral de volta à terrinha e que ele mostre coragem, determinação e seriedade para reduzir os mesmos 79% na taxa de homicídio (como em Bogotá) ou, quem sabe, chegar aos 90% como ocorrido em Medellín.
Que bons ventos tragam a caravela, ops, a comitiva de Cabral de volta à terrinha e que ele mostre coragem, determinação e seriedade para reduzir os mesmos 79% na taxa de homicídio (como em Bogotá) ou, quem sabe, chegar aos 90% como ocorrido em Medellín.
Cabral tem a chance de marcar seu governo no Rio de Janeiro pela redução da criminalidade, como o presidente Uribe ou o prefeito de Nova York, Rudy Giuliani. Basta seguir a rota certa, ao contrário do outro Cabral, e não cair em Cuba, por exemplo...