Pronto. Aconteceu o que a maioria dos brasilieros não queria. O Brasil está fora da Copa do Mundo. Para empurrar a nossa seleção rumo ao hexa, vestiram o verde e amarelo, penduraram bandeiras nas janelas de suas casas, nos prédios comerciais e até nas antenas dos carros! Tudo isso, claro, para a alegria do comércio formal e informal.
O brasiliero viu o sonho do hexa desaparecer nos pés de Zidane (que, às vésperas de dizer adeus aos gramados, deu um show de determinação e técnica, coisa que nenhum dos jogadores da seleção demonstrou) seguido de um toque preciso de Thierry Henry. O um a zero calou a torcida brasileira, derramou lágrimas por todo o país e obrigou o brasileiro a repensar o sonho do hexa.
O que eu quero saber agora é: será que este povo, que exibiu uma exacerbada paixão pelo país, continuará com o delírio patriótico nos dias seguintes à derrota na Alemanha? Para onde vão as toneladas de bandeiras espalhadas pelo país?
Antes de colocá-las no fundo de uma gaveta ou, para aqueles fanáticos decepcionados que pensam em jogá-las no lixo, apresento algumas sugestões. Que tal usar este mesmo patriotismo para acompanhar as eleições deste ano? Que tal usar a bandeira para lembrar-se de que se vive neste país durante todos os meses do ano, por décadas e décadas a fio, e não apenas de quatro em quatro anos? Ou, talvez, manter a tradição de ficar à frente da tv, mas desta vez, para acompanhar uma votação na CâmaraFederal ou no Senado (depois do recesso)? E quem sabe até, juntar-se aos milhares que clamam por justiça num país onde o poder judiciário se vende por um reajuste salarial, mesmo que contrário à lei eleitoral.
Ah, mas isso tudo é muito chato, não é? É diferente de torcer pelo país durante uma partida de futebol. Nada disso que sugeri é divertido, reúne amigos e parentes para um churrasco ou uma cervejada. Nada disso lhe proporciona ser dispensado mais cedo do trabalho.
É verdade. O futebol é a alegria que a política não oferece. Pela seleção brasileira, vale a pena qualquer coisa.
Porém, enquanto você lê este artigo e amarga comentários sobre a Copa ainda por semanas seguidas e tenta reerguer a cabeça, muitos dos "nossos" heróis, nem sentirão o peso deste sonho não realizado. Eles, talvez, nem passarão pela terrinha tupiniquim, já que, dos vinte e três convocados, somente três jogam em clubes brasileiros.
Pois é. Enquanto milhões ainda pensam no que fazer com as bandeiras, vinte dos "nossos" ex-futuros hexa campeões voltarão para suas vidas milionárias, em solo etrangeiro, à espera de 2010. Quem sabe a CBF paga novamente o salário deles para um turismo luxuoso na África do Sul, sede da próxima Copa?
Em resumo, não vejo tanta diferença assim entre política e futebol. Enquanto milhões esperam que eles apenas façam o trabalho pelo qual são muito bem pagos, eles, no final das contas, ficam com os lucros e nós, com as decepções.
PS: vale a pena lembrar que os "nossos" jogadores devem tirar agora alguns dias de férias antes de voltarem aos clubes, porque lá, assim como cá, o futebol pára até o final da Copa do Mundo.