terça-feira, dezembro 19, 2006

Sinceramente...

Não sou católica. Quem me conhece sabe quem estou bem longe disso.
Também não sou evangélica, espírita ou muçulmana. Não visto qualquer embalagem religiosa. Mas tenho cá minhas crenças que não vêm ao caso.
Por que esta explicação da minha total ausência religiosa? Bom, é tempo de Natal, certo? Pelo menos ninguém nos deixa esquecer disso. É amigo secreto no trabalho, na escola, no bairro, na família, na roda do parquinho (para quem é mãe/pai), na padaria da esquina..... são tantos que, no final, gasta-se tudo o que se pretendia economizar. Mas, não reclamo disso. Entrei em poucos, mas são pessoas que eu realmente quero bem, que fazem diferença na minha vida e, por isso, vale a pena pagar aquele mico e dizer.. "o meu amigo secreto é..." e soltar aquelas gracinhas que todo mundo ri pra não te deixar sem graça.
Amigo secreto à parte, Natal é sinônimo também de.... sentimentalismo. Passo as semanas finais do ano pensando nas crianças e famílias que não trocam presentes em amigos secretos e, muito menos, entre si. Não têm mais esperanças de que o bom velhinho lhes faça uma visita, mesmo que o presente desejado seja um prato de comida, um emprego para o pai ou uma vaga na escola pública.
É, meus caros. Em tempo de Natal, sinto uma angustia tão grande que proponho abolir o Natal.
O que importa ter sido o dia em que o tal Jesus nasceu, se isso não impede que nós, pobres mortais, sejamos vítimas da fome, da dor, da perda, da injustiça, do abandono, do frio e do medo.
De que vale sermos tão sensíveis nesta época do ano sendo que, a maioria de nós, nada faz pelos outros no restante do ano?
De que vale reunirmos a família para uma bonita ceia, sendo que, aos domingos (ou de vez em quando) fazemos a mesma coisa simplesmente pelo fato de sentirmos saudades uns dos outros?

Este aperto no coração que me atinge nesta época do ano se chama culpa. Por viver na corrida contra o vermelho da conta bancária, no desejo incessante de proporcionar tudo aos meus filhos, por trabalhar tanto, por nunca ter tempo para nada, nem para olhar do lado e, quando olho, algumas vezes fecho o vidro (mesmo que isso - mais uma vez - meu dê aperto no peito).
No apagar das luzes, corro contra o tempo e procuro dividir um pouco do que eu tenho, aqui e ali.

Mas, sinceramente...se é para sentir culpa e gastar tudo em amigo secreto, prefiro abolir o Natal e desejar a todos, que a solidariedade que invade o seu coração durante uma semana, dê frutos durante toda a sua vida.
Feliz Solidariedade!

sexta-feira, dezembro 08, 2006

quarta-feira, dezembro 06, 2006

The truth is out there

A expressão "a verdade está lá fora", do seriado norte-americano Arquivo X, nunca caiu tão bem ao Brasil quanto agora. Os Estados Unidos sabem mais das verdades do Brasil do que nós mesmos. Ou - o que é mais certo - falam aquilo que nós tentamos esconder.

E, para começar, vamos olhar para o céu. Não tão longe quanto os agentes Mulder e Scully fariam. O céu sobre a Amazônia já está de bom tamanho.

Não acreditávamos, mas o buraco negro é ali. E quem o denunciou foi um americano. Num primeiro momento, o jornalista Joe Shakey foi excomungado pelos brazucas. A bordo do jatinho Legacy, Sharkey (mesmo que tenha sentido apenas um pequeno abalo) foi testemunha do maior acidente aéreo do país. Culpou o sucateamento do tráfego aéreo brasileiro pela falha na comunicação. Certamente não foi a única causa do acidente, mas foi um de uma série de erros que causou a morte de 154 pessoas. Para quem acompanha a cruzada de Sharkey, em seu blog, o jornalista nos despe de nossa cegueira ignorante e submissa. Somos obrigados a engolir a seco trechos assim: "that Brazilian media are very easily manipuilated.", "Surely you don't expect the harrumphing third-world martinets marching around in Brazil to actually FIX their broken air-traffic control system! Don't be silly!"

Muitos de nós ainda prefere refutar...

Agora, o cinema americano exibe "Turistas". Outra batata quente que a maioria de nós prefere jogar para o caldeirão da ficção, ao assumir a verdade. No filme, um grupo de jovens americanos vem passar férias no Brasil. Depois de sofrerem um acidente de ônibus, eles caem numa praia paradisíaca e são vítimas de traficantes de órgãos. São torturados, alguns mortos e descobrem uma rede de tráfico liderada por um médico.

Bom... dá pra imaginar a reação aqui no Brasil. Excomungaram (de novo) os sensacionalistas hollywoodianos que só querem (de novo) denegrir a nossa imagem, que tudo não passa de ficção absurda.

Ficção? Onde!? Talvez seja realmente mentira que turistas sejam assaltados e assassinados no Brasil. Foi pura ficção a atrocidade contra os seis portugueses, em 2001, em Fortaleza. Talvez tenha sido apenas um pesadelo a morte do turista (também português) assassinado na praia de Copacabana, em agosto deste ano. Ou as dezenas de assaltos contra suíços, ingleses, chineses, franceses, no Rio de Janeiro (só este ano!). O estupro de uma turista na praia paulista... é, talvez seja também mera ficção a retirada de órgãos clandestina, em Recife. O assassinato de doadores em Taubaté, Poços de Caldas e várias outras cidades investigadas na CPI do Tráfico de Órgãos, em 2004.

Enquanto nada disso acontece, o brasileiro rejeita o filme, rejeita os fatos, prefere viver uma Matrix tupiniquim (sem o Keanu Reeves, é claro!) e tem a coragem de ainda defender o país! Sequer pensou que o filme poderia ser (assim como as palavras de Sharkey) uma boa oportunidade de escancararmos para o mundo todo a repressão em que vivemos, o massacre moral, a falta de dignidade, de perspectiva, de seriedade! Não. Vamos recuar duzentos passos ao invés de darmos um adiante. Não. Vamos enfiar a cara no buraco e deixar o traseiro à mostra.

Quer saber? Somos um povo ainda mais doente do que eu poderia imaginar. Somos a raiz da síndrome de Estocolmo! Merecemos, não acha?

Ainda há esperança, porém. Enquanto não tivermos coragem de enfrentar, sempre haverá alguém (lá fora) que o faça.