sexta-feira, agosto 31, 2007

A pequena chama se apagou

A decisão do STF de acatar grande parte das denúncias contra os 40 envolvidos no esquema do mensalão foi uma vitória que comemorei por pouco tempo. Apostei que iria acontecer e acertei. Agora, começa de fato o julgamento e será uma longa história. Longa o suficiente até para que alguns dos crimes prescrevam no meio do caminho. Isso todo mundo sabe.

Mas a minha curta comemoração não foi por saber que possivelmente nenhum deles será condenado. Muito menos por uma jornalista atenta ter ouvido confissões de um ministro que disse ter sentido a “faca (da mídia) no pescoço”, ou porque a tendência era “amaciar para José Dirceu”. Não. Nada disso me espanta mais do que, no mesmo dia da decisão histórica do STF, um outro órgão judiciário ter decido manter – em cargo vitalício – um promotor que matou a tiros um jovem de 20 anos.

O mesmo Ministério Público que denunciou o promotor Thales Ferri Schoedl por homicídio qualificado, devolve a ele o cargo, o porte de arma, o julgamento em foro privilegiado e mantém o salário de 10 mil reais. Salário que, aliás, Thales só não recebeu entre 2004 e 2006 quando uma primeira decisão havia afastado o promotor do caso (R$ 284.352 que Thales pede na justiça referentes aos “salários atrasados”). Se não bastasse, o promotor assumirá o cargo na cidade de Jales, interior de São Paulo, onde a família da vítima possui muitos amigos. Thales atuará em casos civis e criminais.

Como um promotor que mata a tiros um jovem de 20 anos e fere outro numa discussão em uma festa pode julgar a culpabilidade de outra pessoa? Quantos pesos e medidas o nosso Ministério Público tem ao analisar um caso? O mesmo peso que usou para levar oito anos para exonerar do cargo o promotor Igor Ferreira? Igor matou a esposa grávida em 1996. Em 2001 foi condenado e só em 2006 foi exonerado. Igor foi condenado a 16 anos de prisão, mas nunca cumpriu um só dia porque está “foragido” desde o crime.

Eu poderia, hoje, estar comentando com alegria, a decisão de que o voto pela cassação de Renan Calheiros (no caso Mendes Júnior) será aberto; ou criticando a lentidão do Conselho de Ética em julgar um e não os três casos envolvendo o presidente do Senado; levantar a questão do suposto envolvimento de Calheiros com lavagem de dinheiro em contas no exterior (a mais nova denúncia contra ele); ou o próximo capítulo do Valerioduto que, em breve, chegará ao STF envolvendo o também senador Eduardo Azeredo. Mas nada disso tem valor quando uma família vê o assassino de seu filho nas ruas, andando armado e com a proteção da justiça.

O Órgão Especial do Colégio de Procuradores do Ministério Público de São Paulo, que devolveu a Thales o cargo de promotor, apagou a pequena chama de justiça que a sociedade tanto precisa e nos fez lembrar que ainda estamos no Brasil, o país onde as alegrias duram pouco. Muito pouco.

Guardem estes nomes: Fábio Modanez e Sônia Mendes Modanez pais de Diego Mondanez, assassinado pelo digníssimo promotor. Amanhã, estes nomes poderão ser os nossos.

sábado, agosto 25, 2007

STF x mensaleiros: o jogo do ano!

Se eu gostasse de futebol, estaria me sentindo em final de Campeonato Brasileiro com meu time na final. Ou, na Copa do Mundo, com o Brasil disputando a taça com a Argentina ou com a França e seu Zidane, sei lá, como disse, “se eu gostasse de futebol”. Deste esporte, gosto mesmo é do meu São Paulo.

A minha Copa do Mundo está sendo acompanhar o julgamento do STF quanto à denúncia dos quadrilheiros do mensalão. Um deleite. O flagrante do fotógrafo do jornal O Globo, Roberto Stuckert Filho, nas mensagens eletrônicas entre os ministros Ricardo Lewandovski e Carmen Lúcia foi um gol de bicicleta!

A atitude do relator do processo, ministro Joaquim Barbosa, de separar por capítulos a denúncia do Procurador Geral de República, Antonio Fernando de Souza, que tem mais de 400 páginas, foi outra jogada de mestre. Assim, o julgamento fica mais objetivo, com maior tendência de acatar as denúncias contra os acusados. Tanto é que 19 já se tornaram réus no processo.

O julgamento só deve terminar na terça-feira e até lá saberemos o futuro dos outros 21 denunciados. Se eu fosse participar de um bolão desta final, apostaria que o STF acatará a denúncia contra todos eles. Nem mesmo José Dirceu vai se livrar dessa. É bom lembrar que Dirceu pode ter se livrado de uma acusação mas, no total, ele é apontado pelo procurador-geral como chefe da organização criminosa, foi denunciado por formação de quadrilha, denunciado quatro vezes por peculato e nove vezes por corrupção ativa! Talvez alguns dos acusados se safem de um ou outro crime. Mais do que apostar, é que eu gostaria de ver.

Pesa sobre os ombros do STF o clamor da sociedade que se mostra intolerante à impunidade. E, convenhamos, acatar a denúncia, não seria tão difícil para o STF, já que transformá-los em réus não torna nenhum deles diferentes do que já são: culpados perante a sociedade. Tornando-os réus não muda a vida de nenhum dos envolvidos. No Brasil, ser processado não é sinal de culpa até o final do julgamento o que, neste caso, levará anos (senão décadas)!

Em tempo: se a informação da ministra Carmen Lúcia (flagrada por mensagem eletrônica) de que o colega Eros Grau não acataria a denúncia do Ministério Público for verdadeira, ele não teria esta chance já que o ministro sairia de licença para uma cirurgia. Eros Grau cancelou a cirurgia. Vamos ver o porquê no final do julgamento, que deve seguir até terça-feira.

Em tempo 2: enquanto os holofotes estão virados totalmente para o STF, o deputado Antônio Palocci será o relator do projeto de prorrogação da CPMF na Câmara, o que não é nada bom para o Brasil.

Em tempo 3: Ainda não engoli a história de que Collor afastou-se do cargo de senador para dar lugar ao primo, que será candidato a prefeito nas próximas eleições. Aí tem. Atenção alagoanos, fiquem de olho no que Collor fará nos 120 dias de licença. O grupo Collor de Melo, que também possui veículos de comunicação no estado, tem muitos interesses no caso Renan. Políticos e financeiros.

segunda-feira, agosto 20, 2007

Eu posso falar mal do Lula!

Uma simples razão me leva a ter o direito de criticar o presidente Lula. Eu votei nele. Votei nele e no PT desde as eleições de 1989. Fiz duas campanhas políticas para o PT e arrastei milhares de votos comigo. Acreditava cegamente que havia muita verdade, honestidade, vontade política e caráter no partido e principalmente na figura de Lula.

Ainda me lembro da primeira entrevista que fiz com ele, em Poços de Caldas, Minas Gerais. Foi em 1994. Ele tinha um olhar profundo, desafiador, daqueles que você não consegue desviar e definitivamente acredita no que ele diz.

E é por tudo isso que me sinto no direito de falar o que eu quiser dele, do partido e do governo petista. O que esta tríade fez com o país e principalmente com aqueles que, como eu, neles confiavam, foi uma das piores traições políticas já vividas neste país.

Eram inadmissíveis corrupção, apadrinhamento, mensalão, ou qualquer coisa que fosse desonesto em governos petistas. Pelo menos era assim que eu fui levada a crer. Lula, para mim, não é melhor do que qualquer mercenário.

Não está em questão, aqui, questões econômicas, sociais, ou qualquer tipo de discurso pró-Lula. E olha que, mesmo assim, são muito discutíveis! Minha questão com ele é mais profunda, é de falta de caráter mesmo. Ética, transparência, honestidade e todas as coisas que ele pregava e se esperava de Lula.

Dois anos atrás, Peter Eigen, presidente da TI (Transparência Internacional) que mede o índice de corrupção em diversos países no mundo, disse que “Lula foi uma decepção”. Decepção? Lula é mais do que isso, é uma mentira. Um personagem criado pelo PT que passou a ter vida própria, interesses próprios e aprendeu a fazer o que há de pior na política. Ser igual.

Detalhe: quando Peter Eigen disse que Lula era uma "decepção" (em 2005) a crise no governo petista havia feito o Brasil perder três posições no ranking global de corrupção, caindo da 59ª para a 62ª posição. Um ano depois, o Brasil caiu ainda mais chegando a 70ª posição entre os 163 países pesquisados.

sexta-feira, agosto 17, 2007

Por favor, vaiem o Lula!

Lula mostra, a cada dia, que tem um ponto fraco e de alvo fácil. O ego do metalúrgico que se tornou Presidente da República não suporta vaias e, pouco a pouco, elas estão desfazendo a máscara do “Lulinha Paz e Amor”. O discurso polido (quando escrito por assessores, é claro) está ficando para trás e dando lugar à vulgaridade, à falta de respeito e mostrando o verdadeiro Lula.

As vaias no Pan ficaram sem resposta, o que foi uma pena. Eu gostaria de saber qual besteira ele teria dito. Nos protestos seguintes, Lula atribuiu à meia dúzia de descontentes e chamou a briga para as ruas. Depois, provocou a elite dizendo “Os que estão vaiando deveriam estar aplaudindo porque ganharam muito dinheiro no meu governo”, referindo-se a banqueiros e empresários. Sem perceber, explicou o milagre do aumento do consumo no país. Com a facilidade dos empréstimos bancários - que encheu os bolsos dos bancos - a classe média e o trabalhador nunca compraram tanto e nunca estiveram tão endividados.

Mas, foi esta semana, que Lula mostrou o quanto é dissimulado e arrogante. Foi durante a inauguração de uma Unidade de Ensino, em Campos dos Goytacazes, no Rio. Um grupo de estudantes e professores, usando nariz de palhaço, vaiou o presidente. Com um sorriso cínico no rosto, Lula primeiro comparou os manifestantes aos atletas no banco de reserva torcendo para que o titular cometa um erro. De banco de reserva Lula entende. Ficou 20 anos em um, criticando, à espera de uma chance. O pior é que, quando conseguiu, não cumpriu metade do que prometeu. Principalmente nos quesitos transparência, honestidade e o fim da corrupção.

Depois, ofendeu os estudantes ao dizer que o público “é tão jovem e desprovido de consciência política, que usa nariz de palhaço, que é uma coisa alegre.” O que o presidente, desprovido de inteligência como é não entendeu, é que o brasileiro é sim um palhaço. Motivo de piada internacional, do Governo Federal, do Congresso, do PT e até da justiça.

Mas foi ao chamar os estudantes de “desprovidos de consciência política” que Lula expôs sua mais sincera opinião sobre o jovem deste país. Para ele o jovem é apenas uma mente manipulável. E disso, ele também entende bem. Durante anos, os chamados revolucionários manipularam milhares de jovens a pegar em armas em nome de uma ideologia falsa e, mais tarde, Lula e o seu bando do PT incentivaram-os a pintar suas caras pelo impeachment de um presidente.

Quanto mais Lula sofre vaias, mais mostra sua face cruel, mentirosa e ao mesmo tempo verdadeira. Espero que a sociedade vaie mais. Muito mais.

sexta-feira, agosto 10, 2007

As lições da semana

Lição 1:
Um avião com 15 parlamentares fazer um pouso forçado não é nada. Teria sido bom se este tivesse com um reverso desligado, sem freios, em pista curta, molhada e num dia de chuva. Exatamente para não passar por isso é que eles foram parar em Guarulhos e não em Congonhas, como previsto. O que eles sentiram dentro daquele avião não foi nada e, mesmo assim, ficaram apavorados! Quem sabe, agora, eles comecem a entender um pouco do que é o dia-a-dia de um brasileiro comum. Aliás, eles têm muito que aprender com a nossa gente.

Lição 2:
Orçamento. Quando uma família comum faz o orçamento do ano ela inclui estudo, moradia, comida, transporte, atendimento médico e por aí vai. O Ministério da Defesa, porém, faz diferente. Ele calcula o quanto deverá investir em Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos durante todo o ano de 2007 (2 milhões de reais) e usa em festas e homenagens em apenas 7 meses! Justamente entre os dois maiores acidentes aéreos da história do país! Se não bastasse, o novo Ministro da pasta diz que as companhias aéreas deveriam aumentar o tamanho das poltronas! Em que país estas pessoas vivem, hein?

Lição 3:
Efeito dominó. Por outro lado, até que seria bom. Aumenta a poltrona, diminui o número de passageiros, aumenta o preço da passagem, restringe os vôos às classes A e B, aumenta o preço das passagens de ônibus, aumenta o fluxo de veículos nas estradas, mata mais gente nas rodovias e aí, quem sabe, as novas pesquisas Datafolha comecem a mostrar a verdadeira imagem de Lula (aquele cujo avião nunca voa com o reverso desligado).

Lição 4:
Cartas na manga. Depois de ser expulso do baile, o ex-Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira resolveu dedurar a diretora da Anac. Pergunto: se ele sabia que Denise Abreu fazia lobby para levar o serviço de cargas para Ribeirão Preto e presentear amigos com 400 millhões de reais, por que ele não denunciou antes? Afinal, era obrigação dele, como presidente da Infraero, ou não? Isso me faz lembrar Roberto Jefferson... só quero ver se o brigadeiro terá o mesmo peito que Jefferson e se ele será processado (no mínimo) por omissão.

Lição 5:
Processo contra autoridade é besteira. Não é que Maluf conseguiu se livrar dos processos em São Paulo? Também, depois de 11 anos na gaveta, duvido até que alguém soubesse onde estavam. Mesmo destino terão outros processos. Contra Marcos Valério, por exemplo. O publicitário-caixa 2-empresário denunciado há mais de dois anos está tão de bem com a vida que até mudou o visual. Fez implante e está a cara de Renan Calheiros. Em tudo. Abandonou a publicidade e agora é pecuarista. Cria cavalos e gado numa fazenda cuja sede é uma mansão.

Lição 6:
Construindo o futuro. Aliás, se Valério quer ser copycat de Calheiros, está no caminho certo. Faltam apenas as concessões de rádios. Será que ele ainda não as tem?

segunda-feira, agosto 06, 2007

Um filme chato, cansativo e repugnante

Se o Brasil de hoje fosse um filme, seria uma obra sem direção, com um péssimo enredo, com muitos personagens e todos ruins. Nos dois sentidos. Os atores (com altíssimos cachês) nem se dão ao trabalho de fingir. Agem e pronto. Acredite neles se quiser! Enquanto outros, que deveriam agir, ficam às moscas, como se esquecessem suas deixas e não entram nunca em ação. Porém, antes mudo do que com péssimas falas. Dizer que tem "duas orelhas, uma para ouvir vaias e outra para os aplausos" e o "não sabia da extensão da crise (aérea)", como disse o protagonista do filme, soa-me como uma piada sem graça, absurda e infantil.

Mas não é um filme. O país está num caos (há muito tempo) que piora a cada dia. Quando um presidente chega ao cúmulo de dizer que "de rua ele entende", em resposta a um protesto "Fora Lula", como se tivesse sido chamado para uma briga de rua, Lula resumiu-se ao que ele é: um bronco cuja maior habilidade é a briga de rua, sem regra, sem escrúpulo e sem técnica, apenas um instinto selvagem de sobrevivência, a própria. Este é o presidente deste país. É o protagonista deste filme que somos forçados a assistir, gostando ou não.

Até Renan Calheiros está cansado. Bocejou longamente no segundo dia de trabalho depois do recesso. Não parece nem um pouco preocupado com o desenrolar das investigações contra ele. Em seu lugar, eu também não estaria. Num país como este?

Enquanto isso, a Polícia Federal vem com um requentado esquema de corrupção nos Correios. E com uma declaração incrível! Mesmo depois das denúncias na estatal, em 2005 (2005!!!), as fraudes nas licitações dentro da empresa continuaram. Jura? Eu nunca poderia imaginar... Assim como não poderia imaginar que outros aviões da TAM apresentassem problemas tão cedo, nem que as CPIs que investigam a crise aérea acabariam por se digladiar no primeiro brilho alheio. Se fosse o Senado a divulgar os dados das caixas-pretas, os deputados é que estariam gritando.

O filme é tão previsível em alguns aspectos que cansa mesmo. Porém, enquanto somos apenas nós, meros espectadores desta trama (que parece não chegar ao fim simplesmente por não ter um desfecho a apresentar), dá para entender. Não temos poder (nem direito) algum mesmo. Mas, a Ordem dos Advogados do Brasil dizer "Cansei"? Cansou de quê? Se pelo menos tivesse feito algo, mas não a vi em ação concreta contra nada do que estamos vendo. Nada! Onde está o pedido de impeachment que poderia (e deveria) ter feito?

Cansados estamos nós, de assistir a este filmezinho de custo elevadíssimo sem resultado algum. Cansados estamos nós de ver famílias destruídas por violências e tragédias entregarem pedidos de "atitude" ao presidente Lula (como se esta não fosse a obrigação dele e sim um favor).

A vida tornou-se tão banal neste país que praticamente três aviões como o Airbus A320 caíram no mês de julho e ninguém percebeu. Foram 669 mortes em acidentes, apenas nas estradas Federais. A imprudência, as péssimas condições das estradas e o aumento do número de veículos (graças ao caos aéreo) foram as principais causas destas mortes. Como sempre, uma "trágica conjunção de fatores".

A última vez que me senti tão enojada ao ver um filme foi em “Laranja Mecânica”, há vinte anos. E, hoje, comparo não só a minha reação ao filme como também os personagens. Lula é Alex. Começa como marginal e termina como marginal. Só que este foi um filme bom de ver e deve ser revisto, principalmente agora! Pena que, diferente do filme, não teremos a chance de revidar a Lula e a todos deste governo a violência que estamos sofrendo. O nosso filme é péssimo mesmo!