sexta-feira, maio 11, 2007

Eu queria ser o Papa

Escolta 24 horas por dia. Reforço de cerca de 20 mil policiais militares (além de federais e exército) por todos os lados. Atiradores de elite sobre os prédios. Carro blindado. Inspeção rigorosa no local de estadia. Estes e outros serviços foram implantados para garantir a segurança do Papa Bento XVI na capital paulista. Nem George Bush teve um esquema de segurança tão reforçado quando visitou São Paulo, em março deste ano. Para a visita do presidente norte-americano foram mobilizados cerca de 4 mil policiais.

Como paulistana, não consigo imaginar como seria ter guarda-costas deste calibre. Aliás, muito diferente disso, não vi um segurança sequer, duas semanas atrás, quando eu e outros clientes fomos vítimas de um assalto dentro de uma loja de conveniência. Armado, um motoqueiro entrou na loja e levou de nós o que quis. Eram 9 horas de manhã.

Ironicamente, torci para que nenhum policial chegasse, com medo de um tiroteio. Sorte que duas estudantes (de 17 e 11 anos) não tiveram, em Monte Alto, no interior do Sergipe. Elas foram mortas, dentro de uma farmácia, com tiros na cabeça, por um assaltante que entrou na farmácia para fugir da polícia.

No dia da chegada do Papa, por volta de uma da tarde, eu saía de um restaurante e quatro policiais militares estavam, muito bem armados, revistando alguns motoqueiros. Pouco depois, às 5 da tarde, fui surpreendida no trânsito por um policial da Rota apontando uma arma em minha direção. Eu estava com a minha filha de 1 ano e 9 meses dentro do carro. O policial falava em alto e bom som o tradicional "mãos ao alto" e seguia firmemente com a arma em punho em minha direção. Assustada, pensei que meu carro havia sido confundido com outro. Para minha sorte (de novo) o alvo não era eu e sim um homem na calçada ao lado. Temi, de novo, por um tiroteio. Arranquei com o carro e com as pernas tremendo.

No dia seguinte, às 5 da manhã, seguia para o trabalho quando me deparei com homens do exército - e suas armas - literalmente em cada esquina por onde eu passava (é assustador temer por aqueles que fazem a segurança). Como ainda era noite, fui com a luz interna do carro acesa até chegar ao trabalho para que pudessem me identificar. Afinal, não tenho cara de quem pretende assassinar o Papa!

Na volta do trabalho presenciei um show nos ares. Vários helicópteros pairavam sobre a região central onde o Papa ficou hospedado. Aeronaves militares faziam a segurança do pontífice. Ao todo, 15 helicópteros foram mobilizados para a operação Papa. Os vôos tradicionais das 470 aeronaves que sobrevoam a capital levando executivos de um lado ao outro ficaram restritos. Os prejuízos ainda não foram calculados.

Não sei se vou sentir falta de Bento XVI quando ele se for de São Paulo, ou se vou me sentir aliviada por não me deparar com tantas armas em meu caminho. Se pelo menos toda esta segurança fosse para nós, paulistanos...

Aliás, de onde saíram tantos policiais para esta operação? Ou melhor, quem fez o policiamento e garantiu a "nossa" segurança enquanto os 20 mil policiais serviram de babá do Papa? Estes policiais representam 27% de todo o efetivo do Estado!

Resta saber se a Secretaria de Segurança Pública divulgará os números da violência nas regiões por onde o Papa não passou.

Nenhum comentário: